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Round 6: como abordar a série do momento da Netflix com o seu filho dentro de casa

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Mães e pais vêm fazendo relatos nas redes sociais mostrando preocupação de que os filhos estejam assistindo à série, que tem classificação indicativa de 16 anos. Caso seu filho tenha visto a nova produção da Netflix ou esteja fazendo perguntas sobre o tema, o primeiro passo é não deixar o pânico tomar conta da sua família.

“Batatinha frita, 1, 2, 3…”. Com certeza você já ouviu essa frase que dominou as redes sociais e conversas nos últimos dias. A expressão marcou uma cena icônica da série sulcoreana Round 6, que foi lançada na plataforma de streaming Netflix no dia 17 de setembro e vem dando o que falar. O sucesso da produção é tão grande que ela está no Top 10 das mais assistidas pelos assinantes brasileiros do streaming desde então.

A história mostra um grupo de adultos com problemas financeiros que se envolve em uma espécie de jogo, que competem pelo prêmio calculado no valor de US$ 39 milhões. Antes de qualquer coisa, é importante lembrar que Round 6 tem classificação indicativa de 16 anos na Netflix. Ainda assim, ela vem sendo tema entre as crianças nas escolas e redes sociais como Instagram e TikTok.

Nos últimos dias, mães e pais se manifestaram nas redes sociais com relatos de que os filhos assistiram à série. O assunto preocupa, já que as cenas da série têm torturas psicológicas, suicídio, sexo, violência explícita e tráfico de órgãos. Caso seu filho tenha assistido a série ou esteja fazendo perguntas sobre o tema, o primeiro passo é não deixar o pânico tomar conta da sua família. 

 

Durante um bate-papo, Beto Bigatti, do @pai_mala, pai de Gianluca e Stefano, também contou a experiência que teve com seu filho em relação à série. Antes mesmo de conhecer Round 6, o caçula de 8 anos já sabia do que se tratava. “Eu perguntei para ele o que era e ele me disse: ‘Ah, as pessoas morrem’. Não precisei ver 30 minutos do primeiro episódio.

 

Na minha concepção, isso não é uma série para crianças.” A influenciadora Fefa Alfano, do @promovidaamae, mãe de Rafael e Felipe, também ficou preocupada e contou que na escola em que os meninos estudam o assunto é sempre Round 6. O filho mais velho chegou a perguntar se poderia assistir à série, mas ela decidiu pesquisar mais sobre para entender se – e por que – os filhos deveriam assisti-la. “Até os primeiros 40 minutos, pensando como mãe, eu já vi que não ia dar para eles assistirem. Respondi para eles que o maior motivo de não deixá-los assistir é porque eu os amo muito”, comentou.

 

Proibir ou não?

 

Roberta Bento, especialista em educação e neurociência cognitiva, fundadora do SOS Educação e mãe de Taís, defende que essa é uma boa forma de explicar à criança o motivo da proibição. “Para pertencer ao grupo, ele não precisa fazer tudo que o grupo faz. Não temos como controlar tudo o que o nosso filho faz, mas nós temos o poder de influenciar o que nosso filho vai fazer. O sentimento de estar fazendo uma coisa contrária ao que foi proposto pela mãe não o deixa relaxado”.

 

“A gente tem a sensação de que amar é falar sim, mas amar também é falar não. Com a pandemia, acabamos naturalizando o impacto do uso de telas na educação das crianças. A gente foi perdendo a noção e o critério do que pode ou não pode na tentativa de dizer sim por amor. A autonomia dada pelos pais deve estar de acordo com a idade dos filhos. Não podemos confundir autonomia com negligência. O canal de comunicação deve estar aberto, mas o poder de decisão é dos pais“, afirma Vanessa Abdo, doutora em psicologia e CEO do Mamis na Madrugada, mãe de Laura e Rafael.

“O maior medo dos pais é de desagradar os filhos. É importante que todos sejam ouvidos, como em uma democracia, mas quem diz sim ou não são os pais”, completa Beto. Por isso, caso seu filho insista em querer assistir à série, seja firme e diga não.

Proibir também é cuidar e demonstra preocupação com a criança. “Pai pode falar não. A palavra “não” pode e deve fazer parte da educação dos filhos”, ressalta Taís Bento, que também é especialista em educação e neurociência cognitiva e fundadora do SOS Educação, ao lado da mãe, Roberta.

 

Por outro lado, as especialistas defendem que o fato de falar sobre a série, caso seu filho traga esse assunto para dentro de casa, não deve ser proibido. “Não proíba o assunto dentro de sua casa porque você precisa ouvir o que ele está falando e com quem ele está falando. É do seu filho dentro de casa que você precisa cuidar. Não perca o seu tempo pensando no que a Netflix pode ou não colocar na plataforma. É responsabilidade nossa. Nós adultos somos a fonte mais segura de devolução para eles”, diz Roberta.

 

Por que a série vem causando tanto interesse entre as crianças?

 

Vanessa Abdo defende que a mistura de elementos infantis ao enredo da série pode ter despertado maior curiosidade nas crianças. “Eles fizeram uma série usando elementos do mundo infantil, com as músicas, a boneca e fantasias, tudo isso amarrado ao proibido”.

Para ela, a grande diferença entre desenhos de gerações passadas que mostravam atos de violência — como o do Papa-Léguas, em que bigornas esmagavam personagens — e séries como essa, é exatamente a divisão entre o fantástico e a realidade. No caso de Round 6, a morte real é tratada de forma banal. “É quase como se fosse aceitável matar as pessoas por conta de dinheiro”, aponta Vanessa.

“Quando a criança é exposta a conteúdos violentos, ela tem sentimentos de raiva constantes e dificuldades em controlar as emoções. Esse tipo de conteúdo só atrapalha e a criança não consegue mais controlar as reações, explica Roberta. Para a especialista, quando a criança é exposta à violência extrema constantemente, o cérebro cria um tipo de processo de dissociação, para que ela não sinta a angústia e dor que aquilo gera. “Ela não aprende a separar esses casos e, com o tempo, perdem a capacidade de ajudar o próximo e a capacidade de empatia, por exemplo. A gente não quer filhos que simplesmente não matem, a gente quer filhos que amem as pessoas”, completa a especialista. 

 

Equilíbrio é tudo!

 

Em tempos de tecnologia e informações que chegam de todos os lados e formas, por mais que seu filho não tenha assistido à série ou demonstrado essa vontade, pode ser que ele tenha visto conteúdos relacionados à série em redes sociais como o TikTok ou Instagram.

 

Ainda assim, é importante manter o diálogo dentro de casa caso a criança traga o assunto à tona. As especialistas também defendem que os pais devem ficar atentos com o que os filhos consomem nas redes sociais, sempre com equilíbrio. “Se uma criança comer salada todo dia, ela vai ser saudável? Não. É a mesma coisa com a tecnologia. Ela precisa e vive nesse contexto, mas também tem que ler, brincar, conversar com o pai e a mãe e ver bons conteúdos, que não gerem consequências negativas para o cérebro”, explica Vanessa.

 

O papel dos pais e da escola

 

No Rio de Janeiro, uma escola recebeu apoio de pediatras de todo o Brasil ao enviar aos pais um apelo para que não deixem os filhos assistirem a Round 6. Na carta, escrita pelos coordenadores pedagógicos em conjunto com a direção da instituição, eles alertam os pais sobre o conteúdo de violência dos episódios. “Estranhamos muito isso, porque a série traz um teor inapropriado para a idade dos alunos. Sentimos necessidade de emitir esse alerta aos responsáveis”, conta Fabiana Barreta, coordenadora da instituição, ao portal O Vale. Ela afirma que muitos pais agradeceram ao colégio por avisá-los sobre o teor violento da trama. “O que está nos surpreendendo é que isso repercute além da comunidade escolar. Alcançou uma proporção maior e abriu um debate”.

 

Para Taís, em momentos como esse, a parceria entre pais e escola é fundamental. “Esse movimento da escola de gerar um comunicado e falar com os pais é uma coisa muito positiva e age como uma rede de apoio. Essa parceria de escola e família é cada vez mais real".

Fonte: Pais e Filhos - Por: Jennifer Detlinger

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