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Privacidade das crianças na internet: quem deixou você postar isso?

O mundo virtual nunca esteve tão presente no dia a dia das famílias - e começa a fazer parte da vida dessa nova geração cada vez mais cedo. Mais da metade das crianças entre 6 e 9 anos já têm perfil no Facebook. Bebês ganham contas no Instagram mesmo antes de conseguirem segurar um celular. Sim, a infância foi parar nas redes. E essa exposição tem um preço

O bebê sentou sozinho. Click. Aprendeu a segurar o pé. Click. Se lambuzou inteiro de papinha. Click. Caiu um dente de leite. Click. Se antes os registros da infância eram guardados como preciosidades em empoeirados álbuns de família, no mundo frenético e digital da pós-modernidade eles encontraram uma nova plataforma: as redes sociais. E nem é preciso esperar por uma ocasião especial para publicar fotos e vídeos. O café da manhã, o caminho para a escola, a hora do almoço e até o banho... Tudo é pretexto para um novo post.

A prática de compartilhar fotos dos filhos nas redes se tornou tão popular que tem até nome: sharenting. O neologismo, resultado da fusão das palavras inglesas share, que significa compartilhar, e parenting, de pais, foi usado pela primeira vez em 2012, por um jornalista do The Wall Street Journal. Desde então, o sharenting é tema de artigos e discussões sobre os limites da exposição de crianças nas redes. E não é para menos. Uma pesquisa realizada pela Kaspersky Lab, empresa de segurança virtual, mostrou que 96% dos usuários no mundo inteiro compartilham suas informações digitalmente e 66% dos pais dividem com a rede fotos e vídeos dos filhos. Outro estudo, do C.S. Mott Children’s Hospital National Poll on Children’s Health (Estados Unidos), revelou que mais da metade das mães e pelo menos um terço dos pais usam a internet para discutir questões relativas aos filhos.

É fato que misturar a vida real com a digital é um caminho sem volta. Recentemente, o Facebook anunciou que chegou ao incrível número de 2 bilhões de usuários – ou seja, 26% da população mundial está na rede criada por Zuckerberg. E ela não é a única a se expandir. O Instagram, criado em 2010, já ostenta 700 milhões de usuários e cresce em ritmo acelerado – o número de perfis dobrou em dois anos. “No passado, havia uma separação muito clara entre a vida presencial e a digital. Hoje, isso não existe mais”, explica a pesquisadora de tendências Clotilde Perez, pós-doutora em Design Thinking pela Stanford University (EUA). “Se as pessoas estão presentes nas redes sociais, é natural que as crianças também estejam. Afinal, elas são parte da sociedade”, completa.

ECOS DO MUNDO VIRTUAL

Nem por isso é menos importante parar para refletir sobre o que a exposição precoce de crianças pode provocar. Elas ainda não têm discernimento para escolher como (e se) querem estar presentes no mundo virtual, mas sofrerão os efeitos do que está nas redes no futuro. “Tenho a impressão que virou um diário coletivo. O que fazíamos na intimidade, para guardar e mostrar aos filhos quando crescessem, agora é público”, explica a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo. No ano passado, por exemplo, repercutiu nas redes o caso de uma jovem austríaca de 18 anos que está processando os pais pelas imagens que eles haviam postado de sua infância no Facebook. De acordo com ela, as mais de 500 fotos suas colocadas nas redes desde 2009 trouxeram muitos constrangimentos.

“É possível que tenhamos mais casos como esse no futuro, mas ainda é impossível prever como a Justiça brasileira lidará com eles. Vale lembrar, no entanto, que assim como os adultos, as crianças também são sujeitos de direito e merecem ter a privacidade respeitada”, explica a advogada especialista em direito digital Alessandra Borelli. No Brasil, a ação por violação do direito de imagem é passível de condenação e pagamento de indenização, independentemente do prejuízo que a repercussão traga. As penalidades podem chegar a seis anos de prisão.  Em outros países, a pena é ainda mais rígida. Na França, por exemplo, a violação do direito à privacidade pode acarretar em pena de um ano na prisão ou pagamento de fiança de até 45 mil euros.

Além da perenidade das imagens na rede, há outra grande questão a se considerar: não há como prever de que forma elas vão repercutir. Em alguns casos, como o da menina norte-americana Chloe, 6 anos, que se tornou uma celebridade da rede,  o sucesso foi “do bem”. A menina caiu nas graças da internet por causa de um vídeo  postado pela mãe quando ela tinha 2 anos. A página ChloeBR, do Facebook, tem mais de 9 milhões de seguidores. Chloe se tornou a rainha dos memes e esteve no país no começo do ano a convite do Google para visitar seus fãs.

Mas a internet também pode ser cruel. Em janeiro de 2016, a americana Alice Ann Meyer, mãe de Jameson, 5 anos, viu uma foto que ela havia postado do filho em 2014 ser transformada em meme após uma intervenção desrespeitosa. Jameson tem síndrome de Pfeiffer, que apresenta como característica um tipo de deformidade do crânio. Em uma montagem grotesca, o menino foi comparado a um cão da raça pug. A imagem viralizou. Desesperada, a mãe fez de tudo para removê-la das redes. “Passei minha noite de sábado lutando para tirar a foto do meu filho da página do Facebook, onde ela tinha recebido 5mil likes e quase 3 mil compartilhamentos. Não foi uma tarefa fácil, precisei submeter 100, talvez mil relatórios (...) antes de removê-la. Sucesso! Somente para descobrir que a imagem já estava em outro site, com mais de mil compartilhamentos e likes”, escreveu ela em um texto publicado em seu blog com o título This Is My Son Jameson, And No, You May Not Use His Photo (“Este É Meu Filho Jameson, e Não, Você Não Pode Usar a Foto Dele”, em tradução livre). Após as denúncias, as plataformas tiraram as imagens do ar. Porém, o estrago já estava feito.

Parece um caso extremo, mas não é. Mesmo que, hoje, as imagens que você posta do seu filho não reverberem de forma negativa, no futuro, dependendo do teor, elas podem se tornar fonte de mal-estar, embaraço ou matéria para bullying. Sim, aquela foto fofinha do seu filho com bumbum de fora na praia ou mostrando o sorriso banguela podem não ser interpretadas por estranhos do jeito que você gostaria. Por isso, para Rodrigo Nejim, diretor de educação da ONG SaferNet, os pais precisam ter em mente que a esfera pública da internet vai além do círculo de familiares e amigos. “Dizemos que expor na rede cenas comuns no contexto familiar, como um primeiro banho, acabam colocando seu filho na maior praça pública do planeta”, alerta.

Outro ponto fundamental é que a postagem dessas fotos pode ferir a autonomia das crianças. Muitas não são nem consultadas pelos pais. “É um equívoco menosprezar a opinião da criança. A partir dos 3 ou 4 anos, ela já pode dizer se gosta ou não de uma imagem e se quer que seja compartilhada”, completa Nejim.

MAS AFINAL, QUEM DECIDE?

O centro do debate sobre a exposição de crianças na internet está em saber quem tem direito sobre as imagens delas. A resposta mais óbvia é apontar para os pais. Não é bem assim. O direito à imagem e à privacidade, garantido pela Constituição, é responsabilidade tanto dos genitores quanto do Estado e da sociedade. “Além de respeitá-lo, todos temos o dever de agir em defesa da criança quando necessário. O que significa garantir a inviolabilidade de sua integridade psíquica e moral, que inclui a preservação da imagem, da identidade e da autonomia”, explica a advogada Alessandra. Não denunciar a imagem de uma criança que está sendo exposta, sendo assim, também configura violar seus direitos.

E uma vez que essas imagens estão na rede, quem pode compartilhá-las? Recentemente, a cantora Sandy, que é discretíssima em relação ao filho Théo, 4 anos, deu uma bronca em um fã que fez uma montagem com fotos do menino. “Você sabe que eu não gosto que publiquem fotos do meu filho. Por favor, apague esse post. Obrigada”, escreveu a cantora. Sandy está certa: imagens de crianças não podem ser compartilhadas sem autorização dos pais ou responsáveis, ainda que tenham sido postadas em modo público. “Os termos de uso não se sobrepõem à legislação do país”, explica Alessandra. Isso quer dizer que, embora as regras das plataformas autorizem que fotos e vídeos postados publicamente possam ser compartilhados por outros usuários, o direito à privacidade das crianças, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, pesa mais. Ou seja: não, não pode repostar ou publicar imagens de uma criança sem o devido consentimento. Mesmo que você a conheça.

O problema é que no mundo online não há garantias disso. Basta dar um print na tela e passar para frente. Foi o que fez uma tia da nutricionista Virgínia Henrique Souza, 31 anos, mãe de Manuela, 5, e Helena, 1 ano. “Quando publicava alguma foto da minha filha mais velha, minha tia copiava e compartilhava em modo público.” Virgínia se irritou, mandou uma mensagem e bloqueou a tia das redes. “Só depois de algum tempo conversei com ela e expliquei os motivos da exclusão”, conclui. De acordo a pesquisa da Kaspersky, 45% dos internautas compartilham vídeos confidenciais e fotos de outros. Por isso, deixe claro para familiares e amigos de grupos privados que você não autoriza que as fotos dos seus filhos sejam passadas adiante. Pelo menos assim ninguém pode alegar ignorância.

Já quando as imagens são compartilhadas por estranhos, a situação é mais difícil de contornar ainda. A blogueira Débora Nunes, 30, mãe de Clara, 7 anos, Caio, 4, e Olívia, 6 meses, viu imagens do menino serem reproduzidas em um perfil estrangeiro, em uma montagem. Ela deu queixa, mas o Instagram demorou dez dias para tirar a foto do ar. “Senti medo justamente por ser um perfil sem informação nenhuma. Quando pedi para excluir a imagem, me bloquearam. Logo pensei em pedófilos”, desabafa. Nesse caso, a preocupação da mãe, na verdade, diz respeito à pornografia infantil. A confusão entre os termos pedofilia (tipo de perversão que leva um adulto a sentir atração sexual por crianças) e pornografia (publicações com caráter imoral) é normal e o receio, também. A disseminação de pornografia infantil é um problema real da internet: só em 2016, a SaferNet recebeu 56.924 denúncias anônimas envolvendo 17.645 páginas (URLs) distintas, distribuídas em 55 países de cinco continentes. “Há um mercado criminoso que busca não apenas imagens explícitas, mas também aquelas aparentemente inocentes que são consumidas e editadas para um contexto de fins sexuais. É aquele vídeo do banho ou a foto na praia. Esse conteúdo, inclusive, pode ser vendido”, ressalta Nejim.

É claro que mudanças de paradigmas ocorrem de acordo com a evolução da sociedade. Acompanhar pela internet o crescimento de crianças que nem conhecemos de perto está se tornando algo natural. Mas ainda que a repercussão aconteça no mundo virtual, ela pode trazer ao seu filho problemas bem reais. Agora e no futuro.

COMO GARANTIR A SEGURANÇA ONLINE

- Evite mostrar detalhes da rotina: cuidado com as informações que as imagens podem revelar. O uniforme que tem o nome da escola, a foto da hora do almoço que mostra quando as crianças chegam em casa, a selfie em frente ao condomínio.

- Só no privado: quer muito dividir aquele momento fofo do seu filho com os parentes e amigos? Em vez de compartilhar nas redes sociais, crie um grupo restrito. Mantenha as configurações de segurança no modo privado e oriente seus familiares a não divulgarem fotos das crianças – mesmo em grupos do WhatsApp – sem a sua autorização. Vale também instalar o sistema de mensagens criptografadas, garantindo que apenas o destinatário consiga abrir o conteúdo. Isso faz com que, se o processo de compartilhamento por acaso for invadido, o hacker não consiga abrir os arquivos porque não tem a chave de segurança.

- Jamais poste fotos de partes ou situações íntimas: esse conselho pode parecer óbvio, mas não é. Fotos do bebê no penico, da primeira vez que ele usa o vaso sanitário, ou da hora do banho podem adquirir uma conotação maliciosa se caírem nas mãos erradas. Além disso, em grupos de mães, é comum encontrar imagens de genitais das crianças, junto com pedidos de opiniões sobre assaduras e outros problemas de pele.

- Faça backup: é importante descarregar constantemente as fotos das crianças que ficam nos dispositivos móveis. Caso o aparelho seja roubado ou perdido, evita-se que um desconhecido tenha acesso às imagens.

- Cuidado com os check-ins: muitos celulares estão automaticamente configurados para registrar a localização e, muitas vezes, postá-la junto com uma atualização ou imagem.

- Use as plataformas infantis: o YouTube oferece um canal só para os pequenos, o YouTube Kids. Da mesma forma, o Google também tem o Kindle, que funciona de maneira idêntica ao buscador, mas com filtragem de conteúdo impróprio para crianças. É possível, ainda, utilizar o filtro de pesquisa SafeSearch, disponível nas configurações do Google. Essas ferramentas também estão disponíveis no celular e, quando ativadas, minimizam as chances das crianças entrarem em contato com o conteúdo adulto. Ainda assim, vale lembrar: elas não são infalíveis. 

- Converse com a criança: a educação digital é a melhor forma de proteger seu filho. É preciso, desde cedo, criar a consciência de que, uma vez que qualquer conteúdo é colocado na internet, não há mais como apagá-lo e se perde o controle sobre ele.

- Peça ajuda: a ONG SaferNet disponibiliza canal para responder às dúvidas dos pais, que oferece atendimento por e-mail, chat e telefone. Acesse: http://new.safernet.org.br/helpline.

POSSO PUBLICAR?

Antes de postar qualquer imagem do seu filho na rede, tente responder a essas três questões – se houver um “sim” para uma ou mais entres elas, melhor deixar a foto só para álbuns de família:

1. É constrangedor?
Aquelas fotos do seu bebê no banheiro ou pelado em cima da cama podem parecer fofas. Mas será que ele vai gostar de tal exposição daqui a dez ou 20 anos? Responda com sinceridade para evitar problemas depois. Lembre-se de que até mesmo os pais podem ser prejudicados pela “falta de noção”, considerando-se que seus chefes atuais (ou futuros) também podem ter acesso a esses dados. 

2. Compromete a segurança?
A postagem revela detalhes da rotina? De onde a família mora? Pode ser distorcida em contextos de cunho pornográfico? Expõe a intimidade da criança? Na dúvida, não poste.

3. Seu filho desaprova?
Pergunte a opinião dele. “Você gosta dessa foto ou vídeo? Posso postar?”. A partir dos 3, 4 anos, ele já tem condições de formular uma opinião sobre a própria imagem. E isso precisa ser levado em conta.

97% das crianças entre 6 e 9 anos do mundo usam a internet e 54% delas já têm seu próprio perfil no facebook

#MINICELEBRIDADES

Bebês e crianças estrelam perfis no Instagram, no Facebook e no Youtube, com milhares de seguidores. Tamanha repercussão gera fama e dinheiro, mas também pode encurtar a infância

1,7 milhão de seguidores no Instagram. Mais de 5,5 milhões de likes. E tudo isso com apenas 75 posts. Os números são de gente grande, mas o perfil a que correspondem pertence a quem ainda tem dentes de leite. A dona dos dígitos é 

Valentina Muniz, filha do humorista Welllington Muniz, o Ceará, e da modelo Mirella Santos, que já virou uma celebridade da web no auge dos seus 3 anos.

Ela não está só. Além de compartilhar o dia a dia dos filhos nas redes sociais em suas próprias contas, muitos pais têm criado perfis em nome das crianças, uma prática mal vista por especialistas. “Não dá para generalizar, mas acho que existe uma questão de se autoafirmar por meio da criança. A gente posta porque quer que as pessoas achem lindo. Isso infla o ego de qualquer pai”, explica a neuropsicóloga Deborah Moss. “Mini digital influencer”, “minifashionista”, “babyblogger”. Algumas descrições nas biografias desses perfis infantis, além de curiosas, podem ser bastante lucrativas (veja quadro). Para a psicóloga Renata Bento, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, elas extrapolam a separação entre o que a criança é e o desejo da mãe por aquilo que ela gostaria que a criança fosse. “O filho imaginado nunca é o filho real. A internet pode contribuir de forma negativa porque torna real aquilo que na prática não existe”, explica.

A criação de “miniblogueiras” e “baby influencers”, que promovem roupas e outros produtos em eventos, entre várias ações, pode estimular um movimento perigoso: a adultização precoce. “A meu ver, o problema maior é a criança se apegar a tal ponto a esse universo de modo a expor tudo o que acontece na vida dela”, completa a neuropsicóloga. O que vale tanto para as minicelebridades, assim como para os minifãs que se inspiram nelas.

Mas não é só no Instagram que os perfis infantis conquistam seguidores. No Facebook (plataforma liberada só para maiores de 13 anos) e no YouTube (onde a idade mínima é 18 anos) há crianças fazendo o maior sucesso. Um mapeamento sobre o consumo e produção de vídeos por crianças feito pelo Media Lab, da ESPM (SP), mostrou que, em 2015, havia 110 canais infantis no YouTube. Em 2016, o número dobrou. Entre eles, 61 são feitos por youtubbers mirins e 14, por teens. A investigação mostrou também que entre os 100 canais mais populares do YouTube no Brasil, 48 abordam conteúdo consumido por crianças de 0 a 12 anos. “As crianças entre 9 e 10 anos são as mais presentes. Da mesma forma que tem o lado bom,  de ser um espaço às oportunidades para a criatividade, tem o risco.  Da pedofilia, dos haters, de como as crianças vão reagir a comentários negativos e ofensas”, explica a pesquisadora Luciana Corrêa, responsável pelo estudo.

O canal Bel para Meninas é o mais popular do YouTube: com mais de 4 milhões de inscritos, está entre os dez mais assistidos do Brasil (é o maior na categoria kids) e tem uma média de 48,3 milhões de visualizações por mês. A Bel, que na verdade se chama Isabel Peres Magdalena, tem 9 anos e estrela o canal com a mãe, Fran. Juntas, elas fazem desafios, cantam, dançam, atuam em “novelinhas” e também mostram produtos, citando, inclusive o nome das marcas.

De acordo com uma pesquisa de 2015 da Defy Media, as mídias digitais já têm mais influência sobre os jovens do que a televisão: 63% deles disseram que comprariam produtos ou marcas sugeridos por um youtubber. Um prato cheio para os anunciantes. A exposição é quase sempre feita de forma discreta, com reviews (avaliações de produtos) e unboxing, termo inglês que quer dizer tirar da caixa. E é isso mesmo o que os pequenos fazem com a porção de “presentes” que ganham das empresas: desembalam e mostram nas redes. Segundo dados do Media Lab, a prática cresceu 222% de 2016 para cá.

O Núcleo Criança e Consumo do Instituto Alana, dedicado ao consumismo na infância, acompanha a exposição de menores que anunciam produtos e serviços na internet. Na teoria, crianças precisam da autorização de um juiz da Vara da Infância e Juventude para participar de peças publicitárias e programas de televisão – que também deveria ser necessária nas redes sociais. Além disso, vale lembrar que a publicidade dirigida ao público infantil é proibida por lei, uma vez que as crianças são mais vulneráveis à sedução da publicidade. Com base nisso, o Alana tem encaminhado vários processos ao Ministério Público para responsabilizar empresas que adotam tal estratégia. No ano passado, o Google teve que prestar esclarecimentos por conta de uma ação com Youtubbers mirins para divulgar uma rede de lanchonetes. O caso não chegou à Justiça, mas o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) interviu e os vídeos foram retirados do ar. Foi a primeira vez que o Conar se manifestou em uma ação envolvendo crianças e o Youtube. “É preciso refletir sobre conteúdo com fim publicitário voltado para seres ainda em desenvolvimento”, alerta Ekaterine Karageorgiadis, coordenadora do núcleo.

Para a pesquisadora Luciana, não há como frear a força das redes - até porque nossa identidade digital também faz parte de quem somos. Qual a saída, então? Preparar as crianças. “Educar para o consumo é mais relevante do que alarmar para os riscos”, diz. Só assim seu filho vai compreender os limites entre o público e o privado, entre o ser e o parecer, seja na vida real ou na virtual.

48 dos 100 canais mais populares do Youtube no brasil abordam conteúdo para crianças de 0 a 12 anos

QUANTO VALE UM MINI DIGITAL INFLUENCER?

Ser um mini digital influencer virou profissão de criança também. Perfis e canais infantis de sucesso atraem anunciantes – e tamanha repercussão pode valer bastante dinheiro. A  empresa Celebryts, por exemplo, funciona como uma plataforma que mapeia os influenciadores mirins e consegue filtrá-los de acordo com o interesse do anunciantes: por região, público-alvo e categoria (games, gastronomia, lifestyle). Para se ter uma noção de quanto é possível lucrar na rede, Ariel Alexandre, fundador e CEO da Celebryts mostra um cálculo rápido. “O mais comum é usar a média de visualizações dos vídeos postados nos últimos 30 dias e multiplicar esse valor por 10 centavos”, explica. Aplicando tal fórmula ao canal Bel para Meninas, por exemplo, o faturamento estimado só com as visualizações pelo YouTube é de aproximadamente R$ 72 mil reais – considerando uma média de  726.259 visualizações no último mês. O site Social Blade, que faz uma estimativa com base no Google Adwords, calcula, para o mesmo canal, um faturamento entre US$ 11,7 mil e US$ 186,6 mil por mês.

Fonte: Revista Crescer 

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