top of page

Avó, babá ou berçário: o que fazer na volta ao trabalho?

Todo casal vai se deparar com essa pergunta no fim da licença-maternidade. e não importa se é só com a mãe, o pai, uma babá, os avós ou a escola — é preciso avaliar cada opção para achar uma que se encaixe à realidade e ao estilo de vida da sua família

Voltar ao trabalho é para muitas mães um dos momentos mais difíceis após o nascimento do filho. Há quem acredite que é nesse momento que acontece “de fato” o corte do cordão umbilical. Afinal de contas, depois de nove meses dentro da barriga, somados aos quatro ou seis meses da licença-maternidade, é a hora da separação física de verdade. Além de ter que ajustar a nova rotina e adaptar a alimentação do bebê, principalmente se ele ainda mama no peito, é preciso escolher quem será os olhos da família, quando ela não estiver por perto. Segundo enquete feita pelo site da CRESCER, com 577 pais, 36% deles decidiram ficar com os filhos integralmente após a licença-maternidade/paternidade, 29% apostaram na escola, 26% deixaram sob os cuidados dos avós e 9% contrataram uma babá.

A enquete reflete o resultado de uma pesquisa feita pela consultoria americana Robert Half, presente em 21 países. O estudo mostrou que, em 85% das empresas brasileiras, menos da metade das funcionárias retornam à vida profissional após a licença-maternidade. A taxa é mais alta que a média global – 53%.

Há muitas questões que devem ser consideradas quando se decide ficar exclusivamente com o filho. Seja qual for a sua escolha, saiba que é dever dos pais educar e estar presente na vida dos filhos. “Crianças sem mãe e pai perdem o rumo”, diz o professor de pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Martins Filho, que é presidente da Academia Brasileira de Pediatria e autor de livros como Quem Cuidará das Crianças e A Criança Terceirizada, ambos da editora Papirus. Veja os prós e contras de cada opção:

(Foto: Guto Seixas e Daniela Toviansky) Mariana abriu mão da profissão para acompanhar de perto o desenvolvimento da filha.

PAIS EM TEMPO INTEGRAL
Delegar a alguém a responsabilidade de cuidar do filho envolve uma série de preocupações que faz com que muitos pais abram mão do emprego para estarem sempre juntos da criança. Portanto, se você está desempregado ou já passou pela sua cabeça sair do trabalho para ficar com seu bebê, saiba que não está sozinho nessa

Quantos  pais ou mães não gostariam de ter  licença de um ano para ficar com o filho? A empresária Maiara Sellani Vince, 33 anos, mãe da Letícia, 4, era uma delas e decidiu não voltar após os quatro meses de licença-maternidade para curtir a pequena. Ela planejou tudo antes de engravidar. “Guardei dinheiro e fiz uma poupança para não prejudicar a saúde financeira da família”, lembra. Muitas vezes, porém, essa decisão não é programada e acontece devido às circunstâncias ou pela crise financeira que assola o país. Mariana Borneo, 32, mãe de Júlia, 5, estava certa de que voltaria à empresa após o término da licença-maternidade, mas foi surpreendida com uma demissão, já no primeiro dia do retorno ao trabalho. “Diante do ocorrido, decidi que não buscaria uma nova recolocação profissional e que ficaria em casa para cuidar da Júlia. Recebi muitas críticas, mas foi a melhor decisão que tomei. Seguimos assim até ela completar 2 anos e entrar na escola. Faz cinco anos que estou fora do mercado de trabalho e voltei a estudar para mudar de área”, conta.

Para alguns especialistas, o que Mariana fez é o recomendado, pois os dois primeiros anos são essenciais para fortalecer o vínculo, estimular o desenvolvimento cognitivo, neurológico e também ajudar na imunidade do bebê por meio do aleitamento materno. “Nos mil dias (que começa a ser contato durante o primeiro dia de gestação até dois anos após o nascimento), o carinho e o afeto, somados à segurança e à educação que os pais oferecem nesse período, vão influenciar as atitudes e o comportamento da criança para o resto da vida”, informa Martins. 

Em países como a Croácia, em que a licença-maternidade é de mais de um ano e existe incentivo até das empresas para que as mães se dediquem à família, é bem mais fácil seguir essa recomendação. Mas essa não é a realidade do Brasil. “Aqui, ou os pais abrem mão do emprego para ficar com o filho – e isso é privilégio de poucos devido à situação financeira da maioria – ou pensam em um plano B para terem horários mais flexíveis”, informa o pediatra e neonatologista Carlos Eduardo Correa, também conhecido como Cacá, formado pela Faculdade de Medicina da USP, em Ribeiro Preto, e referência em parto humanizado. Para ele, a segunda opção tem sido a saída encontrada por muitas famílias, principalmente pela transformação que só a maternidade/paternidade traz. “Depois do filho, muitas pessoas reveem o estilo de vida, mudam de profissão e dão importância a outros valores. Lembro-me da mãe de um paciente que saiu do cargo de diretora de uma multinacional para ficar com a criança e, com a adaptação da nova rotina, de cuidar e fazer papinha, virou fã da cozinha, espaço pouco explorado por ela. Gostou tanto que fez um curso de gastronomia”, diz Cacá.

Mãe x trabalho: como driblar a culpa?

HORÁRIOS MAIS FLEXÍVEIS
Histórias como a dessa mãe estão crescendo aos montes. Pesquisa recente realizada pela Rede Mulher Empreendedora (RME) mostra que 75% delas abrem um negócio próprio a partir da maternidade. Muitas vezes essa busca é impulsionada pelos problemas que enfrentam no mercado de trabalho. “A maioria das empresas não tem jornadas flexíveis para que os pais estejam presentes no ambiente familiar, nas tarefas domésticas e nos cuidados com os filhos. O jeito é buscar alternativas para conseguir dar conta de tudo”, afirma Camila Conti, que, junto com Ana Laura Castro, criou a Maternativa, grupo com cerca de 12 mil mães que compartilham informações e trocam experiências relacionadas ao empreendedorismo materno. Segundo ela, engana-se quem pensa que vai trabalhar menos quando opta por abrir um negócio próprio. “O que o empreendedorismo proporciona é a possibilidade de fazer uma jornada diferente. A mãe pode fazer suas atividades profissionais apenas à tarde e à noite e passar a manhã com as crianças ou tirar um dia para estar somente com os filhos. Fato é que empreender permite aos pais estarem mais perto da família e isso faz total diferença na criação dos filhos”, diz Ana Laura. As áreas de tecnologia  (desenvolvimento de site, programação, consultoria), acompanhadas do artesanato e do mercado de beleza,  são as que mais atraem as novas empreendedoras. Segundo revelou a pesquisa da RME, a maioria delas aposta no setor de serviços (59%) e 30% faturam, em média, R$ 2,5 mil por mês.

CULPA, NÃO!
Mas, antes de decidir por um negócio ou largar o emprego para viver a maternidade/paternidade integralmente é preciso se fazer alguns questionamentos, como: Será que darei conta de trabalhar (caso a decisão seja ser autônomo), cuidar da casa e do meu filho? Terei uma rede de apoio para ajudar em dias que não poderei estar 24 horas com o bebê? Vou passar por dificuldades financeiras? Conseguirei uma vaga na minha profissão, caso queira voltar? Serei feliz só cuidando da criança e da casa? Tudo isso é preciso colocar na balança, pois pode ser que o padrão de vida da família mude, seja preciso trocar de profissão e deixar alguns sonhos, como uma viagem e a compra de um carro zero-quilômetro, mais distantes. “Estamos vivendo um período em que os pais se culpam demais e eles não devem carregar mais essa culpa porque não largaram tudo para ficar com os filhos. Cada família deve avaliar a sua realidade”, afirma Deborah Por isso, faça o teste ao lado, elaborado pela neuropsicóloga Deborah Moss, que é mestre em psicologia de desenvolvimento infantil pela Universidade de São Paulo.

ELES TAMBÉM QUEREM MAIS TEMPO PARA OS FILHOS
Ter horários flexíveis para ficar com a família não é um desejo exclusivo delas. Pesquisa feita este ano, pelo site de emprego Catho, mostrou que 16,1% dos homens já deixaram o trabalho para ficar com as crianças. A maioria,  77,3%, se afastou por um período de seis meses e 13,6% por dois anos. Rubens Palacios, 37, pai do Davi, 6 meses, sempre quis ser pai e tirou férias depois que o filho nasceu para curtir a paternidade. Quando voltou, foi demitido. “No começo, fiquei preocupado com as contas para pagar. Mas, com o seguro-desemprego e a rescisão, estou conseguindo segurar as pontas. A minha esposa voltou para o trabalho e eu optei em cuidar dele até, no mínimo, um ano. Já dispensei duas propostas de emprego. Não tem nada que pague as nossas tardes no parque”, conta.

A LICENÇA-MATERNIDADE NO MUNDO

Croácia - 13 meses
100% de salário por seis meses. Depois, os sete meses de licença sem salário são opcionais.

Noruega - 10 meses
100% do rendimento por afastamento de oito meses ou 80% pela licença de dez meses.

Suécia - 8 meses
80% do salário durante o período de afastamento.

Brasil - até 6 meses
180 dias (seis meses) no serviço público e de 120 a 180 dias (de quatro a seis meses) nas empresas privadas. 100% do sálario durante o afastamento.

Eua - 3 meses
0% de remuneração.

Fonte: Organização Internacional do Trabalho

VOLTO OU NÃO VOLTO, EIS A QUESTÃO!
CRESCER conversou com a jornalista Ann Crittenden, que é autora dos livros If You’ve Raised Kids. You Can Manage Anything (Se você educou os filhos, você pode gerenciar qualquer coisa, em tradução livre) e The Price of Motherhood (O preço da maternidade, em tradução livre), para saber se vale deixar o emprego para ficar com os filhos. Veja a opinião dela sobre o assunto.

1. Você acha que o mercado de trabalho é mais difícil para as mães?
Sim, muito. Elas competem não só com homens, mas também com as mulheres que não têm filhos e que não tiveram suas carreiras interrompidas por conta da licença-maternidade. Tem muita gente que acha que a mãe pode faltar na empresa porque o filho ficou doente e prejudicar o fluxo do trabalho. É um equívoco pensar assim, mas infelizmente ainda é uma realidade. Tem local que não contrata quem tem crianças pequenas. Isso deveria ser contra a lei.

2. É possível trabalhar e cuidar dos filhos?
Claro que é. Só que os pais necessitam de uma rede de apoio para, por exemplo, buscar o filho na escola quando o trânsito travar ou a reunião atrasar. Hoje há nas empresas mais flexibilidade com as mães do que há 20 anos e mais aceitação do home office. Na Holanda, o número de vagas em horários flexíveis tem aumentado e os benefícios também. Com isso, também cresceu o número de mulheres nas empresas. Na Suécia, há uma lei que permite que elas fiquem 75% do tempo com os filhos que ainda não estão em idade escolar. Mas, isso não é a realidade da maioria dos países que ainda seguem o modelo tradicional de carga horária.

3. Então, a saída para quem quer ficar mais tempo com os filhos é o empreendedorismo?
Muitas mulheres tentam isso. Só que é preciso olhar para os rendimentos da família. Para ser um bom empresário leva-se muitas horas de trabalho duro e é necessário investimento. Você não pode abrir uma empresa já achando que terá dinheiro no primeiro mês, pode levar meses e anos até recuperar o valor investido – eu sei disso porque o meu marido é empresário. Portanto, principalmente no começo, a renda é muito mais baixa do que se você estivesse trabalhando em uma empresa.

4. Mas você não acha que o empreendedorismo é uma economia criativa, pois as mães deixam de gastar com um cuidador (escola ou babá)?
A mãe precisa fazer escolhas. Percebo que há muitas mulheres que são forçadas a deixarem o emprego porque não têm ninguém para ficar com os filhos ou não compensa pagar. Há, também, quem fique em casa o dia todo cuidando dos filhos, mas preferiria trabalhar em horários flexíveis. Nesse caso, como as empresas não facilitam, o empreendedorismo pode ser uma saída. Mas é preciso avaliar bem antes!

(Foto: Guto Seixas e Daniela Toviansky) Dagmar teve que trabalhar para criar os filhos, mas hoje  curte a neta.

O CARINHO DOS AVÓS
Eles são fundamentais na vida das crianças pois trazem a experiência e têm muito amor para dar. Mas será que o cuidado diário e a forma que educam não são conflitantes? Veja o que fazer para cultivar apenas o lado bom dessa relação

Como dizem por aí, felizes são aqueles que têm os avós por perto. Essa relação dos mais velhos com os mais novos é sempre recheada de doçura, paciência e histórias. Estudos comprovam que crianças que convivem com eles se desenvolvem em um ambiente acolhedor e repleto de afeto. Afinal, com a sabedoria que carregam por terem vivido mais, sabem o valor que têm um sorriso e um abraço. Pesquisa feita pelo Boston College, nos Estados Unidos, durante 19 anos com 374 avós e 356 netos, mostra que os dois lados se beneficiam desse relacionamento e que, inclusive, é possível afastar a depressão em ambas as partes. 

Cinthia Regina Silva Monteiro, 36 anos, mãe de Isis, 1, não teve a menor dúvida quando precisou decidir com quem a filha iria ficar, após o término da licença-maternidade. “Sempre pensei que minha mãe (Dagmar) era a melhor opção, só esperei a proposta vir dela, pois sei que criança dá trabalho e ela teria que abrir mão de algumas atividades para cuidar da Isis”, conta. Dagmar já estava aposentada (e  sem trabalhar) e pôde cuidar da neta. Mas essa não é a realidade de quase metade dos idosos no Brasil. Pesquisa recente feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas mostra que 43,3% dos aposentados, entre 60 e 70 anos, continuam trabalhando. Para Cinthia, ter a mãe para cuidar da filha, além de ser econômico, é muito gratificante. “É lindo voltar do trabalho e ver as duas sentadas no chão brincando e rindo. Minha mãe sempre disse que não era para eu reclamar da bagunça da casa ou que não tinha jantar, pois a Isis seria prioridade”, diz.

Ela leva a filha cedo para casa dos pais e pega no fim da tarde. A convivência e o carinho da avó com a neta é tão grande que às vezes Isis a chama de mãe. “No começo eu sentia um pouco de ciúmes, mas hoje nem ligo”, conta. Para a psicóloga clínica Ana Paula Magosso Cavaggioni, pesquisadora do Departamento de Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, da Universidade de São Paulo, é preciso que os mais velhos, que já foram pais, exerçam o papel deles. “Deixar com os avós, ao mesmo tempo que promove uma tranquilidade de que a criança está sendo bem cuidada, pode confundir a cabeça dos pequenos porque eles perdem a oportunidade de ter avós e terão avós-pais”, afirma. Sendo assim, os mais velhos precisam achar um jeito de colocar limites, mas sem prejudicar a relação com os netos.

EDUCADORES OU ALIADOS?
Para os avós é mais difícil se indispor com as crianças e, por isso, acabam tendo conflitos com os pais. Cinthia lembra de uma vez que pediu para Dagmar não dar leite artificial para Isis e ela ofereceu mesmo assim. Para evitar os desentendimentos, o melhor é conversar com jeito e argumentar as suas escolhas tanto na educação como nos cuidados. “Explique, por exemplo, que algo não se usa mais porque já foi comprovado que não faz efeito. Convença de que sua escolha é o melhor caminho”, explica Cacá. O pediatra Martins acredita que mesmo que essa relação seja mais difícil,  ainda é uma boa opção. “Nos primeiros anos de vida as crianças precisam de afeto e os avós estão ali para cuidar e acalentar.”

(Foto: Guto Seixas e Daniela Toviansky) Carina não se arrepende nem um pouco de ter deixado a filha aos 5 meses na escola. “lá sempre tive certeza que ela é feliz.”

NA ESCOLA COM AFETO
Carina Gallo, 36 anos, mãe de Alexandre, 19, e Catharina, 5, engrossou por muito tempo o time das mães que se culpavam por não terem vivido integralmente a maternidade. Quando seu primogênito nasceu, ela era muito nova e precisou trabalhar e estudar. Assim, mal tinha tempo para ficar com o pequeno. Casou novamente e engravidou de uma menina mas, desta vez, decidiu sair do emprego. “Coloquei minha filha aos 5 meses no berçário porque não me adaptei a vida de cuidar do lar, da família e dos filhos”, conta. Um dos motivos que a fez deixar a filha na escola, mesmo quando estava em casa, foi a confiança que sentia na instituição. “A Catharina sempre gostou de lá, ficava feliz toda vez que via a corujinha (logotipo) na fachada do berçário e pulava dos meus braços para ir para o colo da Tita, uma das donas que sempre foi muito carinhosa com ela e com todas as crianças. Então, eu pensava: ‘Se minha filha fica tão bem lá, posso trabalhar tranquila e me dedicar a ela nos momentos que estamos juntas’”, diz. Para Carina,a mãe que fica o dia todo com o filho, mas está no celular, cuidando da casa ou fazendo outras atividades, não está tão presente. “É preciso qualidade e não quantidade de horas”, pondera. A pedagoga, psicóloga e professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Neide Barbosa Saisi, defende que os pais sempre devem estar presentes na vida dos filhos, mas a instituição de ensino tem papel fundamental desde a primeira infância. “Quanto mais cedo a criança for à escola, melhor será seu desenvolvimento porque ela aumentará o repertório intelectual e afetivo, vai interagir com crianças da mesma idade e com outros adultos. Quer dizer, entrará em contato com o mundo”, afirma.

Só de pensar em deixar seu filho em um berçário, bate aquele frio na barriga? Calma, lá pode ser um bom lugar para ele se desenvolver e viver uma infância feliz. Pesquisas mostram que ingressar cedo na escola não é prejudicial e contribui para o desenvolvimento cognitivo e social. Só é preciso acertar na escolha.

Pesquisa americana feita com 1.300 crianças mostrou que estudantes que frequentavam o jardim de infância foram melhor nos estudos do que os que ficaram até os 5 anos aos cuidados da mãe, de alguém da família ou de uma babá. Para Neide está mais do que comprovado pela neurociência que as crianças, inclusive as pequenas, aprendem mais com o convívio social. “Toda criança nasce naturalmente egocêntrica. Na escola, ela é obrigada a sair do seu egocentrismo e perceber o que está acontecendo em seu redor, com as outras crianças, os objetos”, diz. É por isso que criança que entra na escola cedo se torna um adulto mais empático, pensa no coletivo e não no individual, porque isso já faz parte da vida dela desde sempre. É claro que nem todas as escolas ensinam esses valores. Portanto, avalie muito bem a instituição, antes de deixar seu filho lá. Como na educação infantil não há a alfabetização, observe se tem espaço para a contação de história, musicalização, linguagem corporal, artes plásticas e o brincar, pois nessa fase o bebê aprende o mundo por meio das brincadeiras. “Há vestígios de crianças no parque, ateliês e murais? Mas não é qualquer marca, é aquela que nos faz crer que as crianças estão produzindo, criando, se expressando e sendo valorizadas”, observa a educadora e pesquisadora em educação infantil, Silvana Augusto (SP).

MAIS AMOR, POR FAVOR
E, atenção! Não se esqueça do mais importante, que é o carinho. A mesma pesquisa americana mostrou que é a partir dos 3 anos que a escola passa a ser mais proveitosa. Antes disso, o que mais “pesa” em favor do desenvolvimento intelectual da criança é o afeto - não importa se vêm de casa ou da creche. Não é só o professor beijar e abraçar. O educador precisa ter uma bagagem para, por exemplo, entender o choro, partilhar a dor e oferecer conforto. Isso é uma demonstração de carinho. A psicóloga Ana Paula, explica que o bebê deve ser cuidado e percebido em sua singularidade, ter seu ritmo próprio respeitado e uma relação muito próxima com o cuidador. “O professor precisa compreender a necessidade do vínculo”, diz. Você deve estar se perguntando, como é possível detectar se a escola é boa e cultiva o afeto? Antes de tudo, ela precisa estar dentro das normas estabelecidas pela legislação. Tem que ter um bom espaço físico, área para banhos de sol, janelas e escadas seguras... No caso dos berçários, é necessário um pedagogo a cada seis crianças, segundo os Parâmetros para Educação Infantil, do Ministério da Educação.

Isso tudo é importante, mas os pais só vão perceber o valor da escola quando ela “tocá-los”, na conversa olho no olho. Também precisa estar de acordo com o estilo de vida do casal. Se a família é mais tradicional, não é interessante uma instituição de ensino moderna e vice-versa. Sem contar com a realidade socioeconômica. “Uma escola que faz passeios caros, tem alunos com uma vida financeira muito diferente da sua, com certeza vai ser conflitante”, diz Deborah.

Você só vai saber se fez a escolha certa com o tempo. “As crianças dizem quando a escola não é boa. Elas choram, reagem negativamente ao colo de outros adultos, ficam caladas e adoecem”, ressalta Silvana. Uma outra dica para saber se o estabelecimento vai de encontro com os seus valores é fazer uma pesquisa no site e nas redes sociais. Às vezes uma postagem de um artigo sobre educação diz muito mais sobre a instituição do que o texto da proposta pedagógica.

OK, a escola atende às expectativas, é perto, cabe no bolso, mas e em relação às enfermidades, será que o meu bebê vai ficar doente? Segundo os especialistas, é inegável que se a criança conviver com mais pessoas, mais ela terá contato com vírus e bactérias. E isso é comprovado em estudos. Uma pesquisa apresentada na Conferência de Ciência sobre Agentes Antimicrobianos e Quimioterapia, em Washington, nos EUA, mostrou que os vírus se espalham rapidamente, de duas a quatro horas, durante os momentos de interação humana. Avalie os prós e contras e decida se a escola é a melhor opção.

 

O PREÇO DO ENSINO

Para colocar o filho em uma escola particular você deve avaliar o seu bolso. Não custa barato. Só para você ter uma ideia, na cidade de São Paulo, os preços variam de R$ 500 a R$ 5 mil (se for bilíngue) por meio período, dependendo do bairro. Têm locais que oferecem refeição, em outros é preciso levar ou pagar à parte. Há os que exigem lista de materiais de apoio e uniformes. Então, antes de decidir pela instituição, avalie e faça conta para ver se encaixa no orçamento da família.

(Foto: Guto Seixas e Daniela Toviansky) Mônica (à direita) acha que  Gleice foi a sua melhor opção.

O CUIDADO DA BABÁ
Se você tem alguém de confiança ou do seu convívio social para cuidar do seu bebê, deve levar em conta esta opção. “Acho que todas as possibilidades de um cuidador para uma criança têm que vir antes do coletivo”, ressalta o pediatra Cacá. Afinal, a atenção será individualizada e o seu filho não precisará sair do canto dele, ser acordado, enfrentar trânsito, chuva, frio... Sem contar que quando se contrata este tipo de profissional é você quem dita as regras e não a escola, por exemplo. Embora seja mais comum desviar uma funcionária que já trabalha na casa para a função, não é só porque ela faz bem os trabalhos domésticos, que será boa para ficar com o seu filho. Em primeiro lugar, ela deve gostar de crianças. Mônica Reinhardt, 34 anos, mãe de Henrique, 3, e Lucas, 2, já tinha uma pessoa de confiança que cuidava do seu apartamento e, como ela tem horários mais flexíveis no trabalho, optou em deixar o primogênito com a moça. “Ela já sabia como era minha rotina, a organização da casa, era mãe e, acima de tudo, muito carinhosa com crianças”, conta ela, justificando a escolha.Ter uma pessoa em casa para cuidar da criança facilita (e muito!) a vida, mas é preciso saber escolher bem a profissional para ter a certeza de que ela vai seguir as recomendações dos pais

Neste caso, como a funcionária já estava com a família desde o primeiro dia de vida do bebê, foi fácil treiná-la. “Para quem vai contratar alguém, o ideal é fazer uma adaptação de, no mínimo, um mês antes do fim da licença-maternidade para ver como o pequeno vai ficar e deixar claro quais são as funções que a babá vai desempenhar, até para não causar ciúme na mãe”, diz a neuropsicóloga Deborah. Mônica, por exemplo, fazia uma lista com a rotina diária do filho. Tinha, inclusive, um cronograma de brincadeiras, tempo que a criança podia assistir a programas educativos e horários para levá-lo para o banho de sol. Ela não quis que a ajudante se preocupasse com a papinha nem a acompanhasse no supermercado, nas festas e viagens.

No começo, a cuidadora dividia as duas funções e dava uma ajeitada na casa enquanto o bebê dormia. Quando Mônica decidiu ter outro filho e a ajudante também precisou sair, ela resolveu contratar duas pessoas: uma faxineira e uma babá. Mas, dessa vez, optou por uma profissional da área, que já tinha trabalhado com uma amiga. Para Sônia Godinho, psicóloga e diretora da Agência de Babás Kanguruh, de Curitiba (PR), é recomendado que ela tenha formação especializada, curso de primeiros socorros, de recreação infantil e segurança. “Ter referências das famílias em que a profissional trabalhou, para saber como era a relação dela com as crianças, também é uma informação importante”, diz Sônia Godinho. Uma das vantagens de ter uma cuidadora em casa é que ela pode custar menos do que o berçário. Embora essa opção apareça em menor proporção na enquete da CRESCER, uma pesquisa feita o ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostra que, apesar da crise financeira, houve aumento de 2,6%, a maior alta da história, na contratação de empregados domésticos (faxineira, diarista, babá e jardineiro).

Mas fique atento aos direitos que elas devem ter – os mesmos de qualquer trabalhador doméstico. A babá precisa ser registrada e receber um salário mínimo por 44 horas semanais (sendo no máximo oito horas diárias), ter 13º salário, aposentadoria, férias, licença-maternidade, aviso prévio, entre outros benefícios, como hora extra, de acordo com a Convenção Coletiva da categoria. Ou seja, se por um lado ela pode custar mais barato do que o berçário, se você atrasar para chegar em casa ou precisar que ela durma com as crianças, poderá sentir a diferença no bolso. Antes da contratação, Sônia indica também fazer uma entrevista para descobrir se ela mora perto e evitar que problemas com o trânsito não prejudiquem a rotina da família. Com esses cuidados, será mais fácil acertar na escolha. 

FIQUE ATENTO!

1. Se o seu filho fica feliz e não muda de comportamento na presença da babá. “Eu sempre soube que eles eram bem tratados porque amavam, inclusive, quando a babá dormia em casa”, diz Mônica Reinhardt.Muita gente ainda tem receio de contratar uma babá pelo fato de ter um desconhecido sozinho dentro de casa com a função de cuidar do filho. “Acho que os pais precisam estar seguros quando optarem por esse profissional. Mas, é claro, que é possível ter alguns cuidados para minimizar qualquer risco de maus-tratos”, afirma Deborah. Portanto, observe sempre:

2. Volte para casa mais cedo, sem avisar, para ver como ela está cuidando do seu filho.

3. Embora os especialistas sejam contra, se você ficar mais seguro, instale câmeras de segurança em locais estratégicos ou deixe a babá eletrônica ligada para acompanhar à distância, como está o quarto da criança. Mas, é obrigatório por lei, avisar a babá.

DE TUDO UM POUCO
Quem tem filhos sabe que não se deve descartar nenhuma possibilidade de cuidador, até porque a criança pode não se adaptar à escola ou a babá ter que sair do trabalho às pressas. “Tem gente que acerta de primeira, mas essa relação também pode ser por tentativa e erro. Os pais podem passar por todas as experiências até achar a melhor”, diz Deborah Moss. Além disso, ter mais do que uma opção é o recomendado. Afinal, o que fazer no dia que seu filho está doente, não pode ir para a escola, mas você tem uma reunião inadiável? Thelma Carletti, 38, mãe da Lara, 5, nunca contou só com uma pessoa. “Até os 2 anos minha filha ficou com uma babá. Mas, como eu tinha receio que ela cuidasse sozinha da Lara, pedi para que ficasse na casa dos meus pais, que são autônomos, e também ajudavam a fiscalizar. Hoje, ela está na escola, mas tenho os meus pais por perto para qualquer urgência”, diz.

ESCOLA, BABÁ, AVÓS OU SÓ VOCÊ

Anote a alternativa que mais se aproxima da sua realidade, jeito de pensar e agir.

1 Você ou o seu marido podem abrir mão do trabalho ou estão desempregados?
(A) Estou sem emprego, mas pretendo voltar a trabalhar.
(B) Posso ficar um tempo longe para me dedicar integralmente à maternidade/paternidade.
(C) Não posso parar de trabalhar, mas tenho horários mais flexíveis.
(D) Vou voltar para a empresa em horário comercial.

2 Você aprova a educação que seus pais (ou sogros) deram aos filhos?
(A) Sim. Aprovo perfeitamente.
(B) Aprovo, mas com ressalvas.
(C) Aprovo, com muitas ressalvas.
(D) Não. Discordo totalmente da forma que eles educaram.

3 Você tem receio de que seu filho fique doente ainda muito pequeno?
(A) Sim. Não quero que ele adoeça de jeito nenhum.
(B) Mais ou menos. Vou tentar evitar ao máximo o contato com outras crianças.
(C) Não me preocupo com isso.
(D) Acho que é inevitável ele ficar doente e será bom para a imunidade dele.

4 Como você lida com os palpites alheios?
(A) Muito bem. Sigo quando acho interessante.
(B) Não permito palpites.
(C) Levo muitos assuntos em consideração.
(D) Raramente levo as opiniões dos outros em consideração.

5 Confiaria em deixar o seu filho com uma pessoa que não seja da família?
(A) Nunca.
(B) Só se eu tiver por perto.
(C) Sim, não vejo problema.
(D) Só se tiver outras pessoas fiscalizando.

6 Acha que para se desenvolver bem seu filho precisa interagir com outras crianças?
(A) Não. Ele não precisa.
(B)  Às vezes.
(C) Muitas vezes.
(D) Sim, precisa estar com crianças diariamente.

Respostas

 

Se você respondeu a maioria (A), os avós podem ser uma boa opção.

Já se assinalou mais a alternativa (B), pode ser que esteja preparado para cuidar integralmente do seu filho. Agora, se você se identificou mais com as respostas (C), avalie a possibilidade de uma babá.

As respostas (D) foram as mais escolhidas? O berçário pode ser a solução.

 

“Porém, como essa escolha é particular de cada família, e não existe melhor ou pior – apenas a que se encaixe à realidade e à necessidade do casal –, avalie os prós e os contras de cada opção”, informa Deborah Moss. Lembre-se também de que você pode mudar a qualquer momento.

Fonte: Revista Crescer 

2016-10-27-crescer-capa---bebe4859.jpg
102816_2829.jpg
103016_3209.jpg
103016_3140.jpg
110416_3418.jpg

valor. cuidados de qualidade. conveniência.

bottom of page